As Vozes que Falaram mais Alto no SXSW 2023 529

temabina cards game games deck typo typography numbers signs hearts scripts paper texture diamonds clovers clover heart diamond used playcardsO grande festival de Austin voltou ao modelo presencial para celebrar encontros, espaços e ideias não regulados por algoritmos.

Com a presença de mais de mil brasileiros – entre 330 mil pessoas de 75 países -, o South by Southwest (SXSW) deu destaque à emergência climática pela primeira vez, além de trazer ao palco música, cinema, criptos, NFTs, games, a arte de Banksy e dezenas de assuntos relacionados ao futuro, distribuídos em mais de 2 mil atividades.

Em meio à multidão, selecionamos algumas das vozes que ninguém pode deixar de ouvir.

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Por líderes mais curiosos e inclusivos

Reggie Fils-Aimé |

Fundador e líder da Brentwood

Growth Partners Ex-presidente e líder de operações da Nintendo; diretor não executivo da Spin Master Inc. e advisor especial da Rogue.co

“A cultura de uma organização é o ar que os funcionários respiram. É a forma como as pessoas agem quando a gestão não está na sala”

(Foto: Gettyimages)

Ex-presidente da Nintendo, Reggie Fils-Aimé listou três pilares fundamentais para o sucesso de qualquer líder atual: saber se comunicar perfeitamente; ter grande curiosidade intelectual; e diversidade e inclusão.

Filho de haitianos e ex-morador do Bronx, ele reforçou como garantir uma cultura de inclusão nas empresas é fundamental para o bem-estar dos funcionários, dos clientes e também para os resultados de negócio.

“Quando você tem uma variedade de pontos de vista numa sala, seja por cultura, origem, orientação sexual ou qualquer coisa que nos torne diferentes, você consegue unir forças para chegar às melhores soluções.”

Não é (só) sobre dinheiro

Pagie Mycoskie | Fundadora da Aviator Nation

Durante a pandemia, ela fez a mágica de vender US$ 1,5 milhão em 24 horas. O nome do jogo? Autenticidade

“Ficaria entediada só com o dinheiro” (Foto: Gettyimages)

Alta, loira e bilionária, a texana Mycoskie foi a estrela outsider do SXSW. Inteligente, preferiu dar sua palestra dentro de sua própria flagship, na South Congress, e, sentada no palco que oferece a músicos, deu uma aula de empreendedorismo cool. Saída da garagem, sua marca de roupas e acessórios made in USA se tornou símbolo do estilo de vida californiano.

Sucesso, para ela, tem a ver com tratar a equipe como família. Literalmente. Fazendo refeições junto e até conhecendo parentes. Quando suas lojas tiveram de fechar, ela fez uma liquidação virtual para pagar salários e saiu de um patamar de US$ 25 mil para US$ 1,5 milhão em 24 horas.

A quem interessar possa, a Aviator Nation não está à venda: “Ficaria entediada só com o dinheiro”. That’s it.

Investidor, é hora de agir

Deborah Brosnan | Presidente da Deborah Brosnan & Associates Cientista, exploradora marinha e empreendedora focada na diminuição de riscos ambientais“A sobrevivência da natureza e a sobrevivência da humanidade é uma só. Sem os oceanos, nós não sobreviveremos” (Foto: Gettyimages)

Além de conscientização e mudança de cultura, por que não usar a tecnologia para salvar os oceanos? Deborah Brosnan trabalha a vida toda focada na preservação deles e revela, com otimismo: “Nunca vi tanta gente realmente preocupada, e realmente transformando isso em ações”.

Com apoio do Vale do Silício, câmeras inteligentes estão ajudando a monitorar corais e vida marinha, fazendo em um mês o trabalho que duraria cinco anos em pesquisa tradicional. Ao mesmo tempo, empresas nas Bermudas e em Mônaco trabalham em projetos que entendem padrões e buscam reproduzir corais com maior velocidade.

O que falta para ir além? Verba: “O desafio é fazer com que investidores percebam esse valor e invistam em projetos relacionados”.

Fazendo o impossível possível

Albert Bourla | Chairman e CEO da Pfizer

Autor do livro Moonshot: Inside Pfizer’s Nine-Month Race to Make The Impossible Possible

“O mundo estava com medo, na escuridão, e de repente a ciência trouxe esperança” (Foto: Gettyimages)

Albert Bourla subiu ao palco do SXSW para falar de seu recém-lançado livro, no qual conta as dores e o sucesso do desenvolvimento da vacina contra a covid-19. O executivo fala sobre a pressão, a ansiedade, os conflitos com a equipe e os ruídos políticos – especialmente com o governo Trump, sem deixar de citar o brasileiro como “não interessado” na vacina inicialmente.

Tudo isso, segundo ele, tornou o processo mais complexo, mas ele nunca deixou de acreditar no bom resultado. Também não se esquivou de questões sobre a dualidade entre gerar lucro e salvar vidas, reforçando o principal valor da Pfizer: “pacientes primeiro”. “No mundo moderno, não há como os shareholders terem qualquer retorno de investimento se não formos capazes de oferecer algo bom e de valor tangível aos pacientes”.

O próximo salto evolutivo da internet

Maria Ressa | Cofundadora, CEO e jornalista da Rappler

Filipina, a jornalista venceu o Prêmio Nobel da Paz em 2021 por seu trabalho a favor da liberdade de expressão

“Sem fatos, não há verdade. Sem verdade, não há confiança. E sem confiança, vivemos uma fratura social” (Foto: Gettyimages)

Maria Ressa não conseguiu ir a Austin por ter mandados de prisão expedidos contra ela pelo presidente filipino, Rodrigo Duterte, dias antes do embarque, em retaliação ao seu trabalho jornalístico contra o regime ditatorial. Online, ela usou o exemplo para ilustrar como lideranças eleitas democraticamente estão usando poder e desinformação para derrubar democracias, citando, além do próprio governo, casos como os de Vladimir Putin, na Rússia, e Jair Bolsonaro, no Brasil.

Vencedora do Nobel da Paz em 2021, destacou que vivemos numa crise de credibilidade, com as redes sociais ajudando a destruir a verdade a favor de seus modelos de negócio. “Precisamos evoluir para uma internet que nos proteja da manipulação em escala. Precisamos defender o jornalismo, os jornalistas e a mídia independente”, destacou.

Mais que contar, vamos compartilhar histórias

Céline Tricart | Storyteller na Lucid Dreams Productions

Diretora de filmes multimídia, especialista no uso de novas tecnologias e premiada em festivais como Sundance, Venice e Tribeca

“Todas as ideias que todos nós concordamos em acreditar, em conjunto, constituem a cultura e a sociedade em que vivemos” (Foto: Gettyimages)

Céline Tricart é fascinada por contar histórias e, nos últimos anos, dedica-se a encontrar formas novas de usar tecnologia para tornar essa experiência, essencial na existência humana, algo novo ou mais interessante.

Boa parte disso passa por realidade virtual, como em alguns de seus filmes mais recentes – em que o espectador precisa usar os óculos de VR, por exemplo -, e também pela evolução do conceito de “storytelling”, passando por “storyliving” (quando a audiência vivencia de forma mais imersiva a história), ou “storysharing” (quando ela ajuda a construir a história).

Nike Air Force 1 Louis Vuitton Colour PackTudo, porém, sempre com a emoção como elemento central. “A tela é, muitas vezes, uma parede de separação emocional. Com a realidade virtual, superamos esse obstáculo e reacendemos nossas emoções”, pontua.

Podemos chorar e ser radicalmente positivos

Lizzo | Cantora e atriz

Fenômeno da música nos Estados Unidos, Lizzo é a protagonista e produtora executiva da nova série Watch Out for the Big Grrrls

“Estou tentando mudar as coisas no nível cultural, que é onde eu atuo como cantora e atriz. Mas há pessoas no comando que poderiam fazer essas mudanças em nível sistêmico, e elas estão nos decepcionando” (Foto: Gettyimages)

Lizzo foi provavelmente a principal artista entre os conferencistas do SXSW 2022. Ainda não tão popular no Brasil, ela traz no currículo, em uma carreira relativamente curta, três Grammy e mais de 6 bilhões de plays em suas músicas nas plataformas digitais.

Lutando a favor do feminismo, da causa negra e contra a gordofobia, Lizzo encontrou na arte uma forma de potencializar tudo isso. E o sucesso veio graças ao seu talento e, principalmente, sua essência e naturalidade. “Sinto que posso ser um exemplo para jovens que estão me acompanhando nas redes sociais, mostrando que tudo bem chorar, ter emoções, ficar brava ou até ser radicalmente positiva”, destacou.

No palco, apresentou detalhes de Watch Out for the Big Grrrls, novo reality show da Amazon Prime Video onde ela é protagonista e produtora executiva – e parte em busca de dançarinas que se identifiquem com seu corpo.

Dá para rasgar muito dinheiro no metaverso

Mark Cuban | Empreendedor e investidor

Bilionário com mais de 100 empresas no portfólio (incluindo o Dallas Maverick, da NBA) e astro do Shark Tank

“Se você é um criador de conteúdo e não entende de cripto, você está ferrado” (Foto: Gettyimages)

Mark Cuban esteve em três painéis durante o SXSW, todos para falar sobre empreendedorismo, mas que no fundo destacavam três de seus mais recentes investimentos em empresas – o que mostra como ele sabe bem se vender.

Mesmo assim, o bilionário não deixou de dar bons conselhos a quem empreende. Entre eles, algumas coisas bem simples, mas que ele garante que são o principal segredo de seu sucesso: seja curioso e nunca pare de aprender – “Até porque, a única coisa constante na vida é a mudança”.

Entrando nas discussões mais quentes do evento, ele desencorajou fortemente qualquer compra de terrenos virtuais no metaverso, o que classificou como “rasgar dinheiro”, mas acredita que as NFTs devem ganhar um uso mais inteligente no curto prazo e que as carteiras de cripto vão mudar tudo – especialmente como usamos o e-commerce e como remuneramos criadores de conteúdo.

O maior desafio da história humana

Neal Stephenson | Escritor

Autor best-seller de ficção científica, responsável pela primeira menção do termo “metaverso”, em 1992, no livro Snow Crash

“Estou vendo empresas tech que, há cinco ou dez anos, estariam obcecadas em desenvolver apps, voltando sua atenção para soluções de engenharia que podem resolver a questão climática” (Foto: Gettyimages)

Neal Stephenson é reconhecido por ter sido o primeiro a usar o termo “metaverso”. Renomado autor de ficção científica, ele poderia ter aproveitado o hype do tema mais falado do SXSW 2022, mas teve como principal discurso no evento a necessidade de agirmos de imediato para reduzir a emissão de carbono na atmosfera.

“Remover o dióxido de carbono da atmosfera é um grande projeto de engenharia. Acredito que seja o maior da história humana. Vai levar dezenas de anos, mas trará os níveis de aquecimento para onde deveriam estar”, enfatizou.

Em seu último livro, “Termination Shock”, Stephenson conta a história de um bilionário texano que tenta resolver a questão climática usando geoengenharia solar. Na vida real, ele é otimista com empresas buscando soluções para a causa. “Espero que não esteja imaginando coisas”, brincou.

O novo significado cultural dos games

Joost van Dreunen | Empresário e escritor

Fundador da SuperData Research, professor de negócios na New York University e autoridade global em games

“Mesmo com toda a engenharia e o fator negócios por trás, é o lado social dos games que os tornam tão excitantes” (Foto: Gettyimages)

Joost van Dreunen foi o responsável por reforçar ainda mais a relevância da indústria dos games, que fechou 2021 movimentando US$ 219 bilhões. Porém, a parte mais interessante de sua análise é de como esse mercado vem se transformando para atingir cada vez mais gente, principalmente migrando de produto para serviço e ganhando poder social.

“Os games se tornaram parte do nosso cotidiano. Muitos ganham relevância porque jogamos e queremos compartilhar com os outros”, enfatizou, dando como exemplo o Wordle, Jogo de demonstração de aviator de graça de palavras extremamente simples, criado por um engenheiro como hobbie e comprado pelo New York Times em janeiro último por mais de US$ 1 milhão.

“Os games estiveram, por muito tempo, às margens da indústria do entretenimento. Hoje, eles se tornaram esse mercado gigantesco – e muito além dos negócios, são também extremamente significativos culturalmente”, completou.

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